E historiografia: da instauração à restauração historiografica
História e Historiografia: da instauração à restauração historiográfica
[1871-2002] – parte III*
Mário Maestri**
Hiato sem repercussão
Em 1995, o historiador mato-grossense Jorge Luiz Prata de Sousa defendeu na
Universidade Nacional Autónoma de México dissertação de mestrado versando sobre o
“mito brasileiro sobre os voluntários da pátria”, publicada em 1996. Escravidão ou morte: os escravos brasileiros na Guerra do Paraguai constitui trabalho revisionista extemporâneo, de alto nível acadêmico. 1 Após argutas páginas de crítica da historiografia nacionalpatriótica posterior à guerra e à República, destaca a importância das apologias sobre o
“voluntariado” na construção das narrativas do Exército como expressão da nacionalidade.
Apologias como as de Paulo de Queiroz Duarte, em Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai: “E o apelo do Imperador, endereçado ao voluntariado, teve profunda ressonância na alma de seus súditos [...] o entusiasmo popular extravasou em transportes patrióticos, enchendo as ruas e praças das principais cidades do país de considerável multidão, vibrando de fé na justiça da causa, pronta a cerrar fileiras em torno do Imperador.
[...] A causa nacional passou a empolgar a alma do povo [...].”2
Narrativas retóricas nacional-patrióticas que praticamente obscureceram o caráter fortemente coercitivo do recrutamento. O autor lembra que foi efetivamente a resistência dos homens livres em se alistarem, apesar das vantagens oferecidas, sob a pressão estatal, que levou à decisão imperial de comprar e incorporar cativos ao Exército e à Armada, como assinalado. Apoiando-se sobretudo no estudo das cartas de alforria concedidas no Rio de Janeiro, explicita as contradições que dificultaram o arrolamento: a luta dos grandes proprietários pelo controle da mão-de-obra servil; as duras condições de existência e o racismo
[“preconceitos sociais”] nas forças armadas; o caráter elitista da Guarda Nacional; o