¨Cultura religiosa¨
Creio que a transcendência é, talvez, o desafio mais secreto e escondido do ser humano. Porque nós, seres humanos, homens e mulheres, na verdade, somos essencialmente seres de protest-ação, de ação de protesto. Protestamos continuamente. Recusamo-nos a aceitar a realidade na qual estamos mergulhados porque somos mais, e nos sentimos maiores do que tudo o que nos cerca.
Desbordamos todos os esquemas, nada nos encaixa. Não há sistema militar mais duro, não há nazismo mais feroz, não há repressão eclesiástica mais dogmática que possam enquadrar o ser humano. Sempre sobra alguma coisa nele. E não há sistema social, por mais fechado que seja, que não tenha brechas por onde o ser humano possa entrar, fazendo explodir essa realidade. Por mais aprisionado que ele esteja, nos fundos da Terra, ou dentro de uma nave espacial no espaço exterior, mesmo aí o ser humano transcende tudo. Porque, com seu pensamento, ele habita as estrelas, rompe todos os espaços. Por isso, nós, seres humanos, temos una existência condenada - condenada a abrir caminhos, sempre novos e sempre surpreendentes.
Há um grande filósofo italiano que viveu há muitos anos e que me inspirou muito em minha juventude: Michiele Federico Sciacca. Hoje, ninguém mais sabe dele. Escreveu um livro cujo título é L’uomo, questo squilibrato (O ser humano, esse desequilibrado). Não cabe nenhum equilíbrio. Ele sempre está fora do centro, longe do equilíbrio.
Ao falar de transcendência como dimensão intrínseca do ser humano, temos que submeter a rigorosa crítica o que as religiões nos legaram. Elas afirmam que o Céu fica lá em cima, onde está Deus, os santos e aquele mundo que chamam de transcendente. Aqui embaixo fica a imanência, onde está a criação sobre a qual nós reinamos. Os dois mundos se justapõem e até se contrapõem. Através de toda a mecânica da oração e da meditação buscamos criar pontes para chegar ao Céu, à