Cinema, uma arte promíscua
É de consenso geral que o cinema, por ser uma expressão da arte tão jovem, bebeu da fonte de diferentes linguagens artísticas, como a literatura – um dos nossos enfoques nessa pesquisa. Partindo disso, não fica difícil identificar as claras relações entre a literatura e o cinema. Desde que engatinhava em sua veia fantásticas, o cinema já buscava a literatura como fonte de inspiração e, talvez, de legitimidade. Um exemplo famoso é o filme alemão Nosferatu (1922), que adapta o livro de Bram Stoker (1847-1912), Drácula1. Utilizar Nosferatu como exemplo se torna ainda mais interessante pelo fato de que se trata de uma adaptação não convencional. Apesar de ser baseado no Drácula, a película se distancia da obra literária, de maneira que muda nomes de personagens e lugares, pois não foi concedido a autorização para F. W. Murnau (1888-1931) realizar o filme. Tal fato demonstra perfeitamente a relação que existia no passado de superioridade da literatura em relação ao cinema, afinal se trata de uma arte com centenas de anos e outra que começava a surgir. De certa forma, hoje ainda é presente esse pensamento, principalmente no que se refere ao cinema do mainstream2. Um exemplo que é amplamente divulgado na Internet, de maneira praticamente neo-folclórica, onde não sabe-se o que é real ou o que é mito, é que J. R. R. Tolkien (1892-1973), autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit3, teria deixado explícito em seu testamento que em hipótese alguma suas obras deveriam ser vendidas para a Disney. Tanto o cinema quanto a literatura foram ruminados e digeridos pela máquina comercial, mas não é tão difícil compreender onde estão as diferenças. Por mais que o texto de um pocket4 de Charles Bukowski (1920-1994) tenha passado nas mãos de um editor, de um revisor e, inclusive, de um tradutor para o português, ainda existe um conhecimento geral que afirma que aquilo ainda é um texto de Bukowski. Afinal, o trabalho do editor e do revisor, em geral, é