A África Brasílica de Alencastro
Centro de Estudos Afro-Asiáticos
Pós-graduação lato sensu
HISTÓRIA DA ÁFRICA E DO NEGRO NO BRASIL
PATRÍCIA FERREIRA E SILVA
RESENHA Alencastro, Luiz Felipe de: O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul
São Paulo: Companhia das Letras, 2000
Rio de Janeiro julho/2009 Introdução
Antes de tratar da criatura, melhor falarmos do criador. Luiz Felipe de Alencastro é professor titular da cátedra de história do Brasil da Universidade de Paris IV em Sorbonne. Intelectual sediado nas regiões boreais de onde tece observações das regiões austrais, como brinca em seu blog Sequências Parisienses, Alencastro é daqueles que acreditam que recapitular sob novos termos – melhor seria dizer, recapturar - a natureza histórica do tráfico negreiro e do escravismo é indispensável para lançar qualquer tipo de compreensão lúcida sobre o Brasil – seja colonial, imperial, independente; seja moderno ou contemporâneo. Destino de quase a metade dos escravizados extraídos do continente africano, nosso país singulariza-se em sua participação no tráfico tanto pela expressividade aterrorizante dos números – dos cerca de 12 milhões de africanos subtraídos de suas sociedades de origem, mais de 4 milhões de viventes aportaram aqui, semi-vivos, entre os séculos XVI e XIX - como pela dimensão que a escravidão enquanto instituição reveste-se junto ao processo de nossa formação e de participação na modernidade. Entranhado em todos os aspectos da vida social brasileira, o escravismo é portanto nosso fundamento histórico no qual se assenta a construção de nossa soberania nacional e nossa inscrição na economia-mundo. Esta é apenas uma das notáveis reflexões que permeiam este livro premiado, muitíssimo resenhado, comentado, criticado, polemizado. Aventurando-nos por suas camadas e múltiplas possibilidades de leitura do real, desde o esforço de acompanhar suas contribuições e aproximações