A Vida
A vida depois da vida: Reabilitação psicológica e social na transplantação de órgãos (*)
EDITE TAVARES (**)
«Fazer um transplante é nascer novamente sem ter morrido verdadeiramente.»
(Testemunho)
1. A PSICOLOGIA DO PRÉ-TRANSPLANTE
1.1. A adaptação à doença
O propósito de um transplante como terapia é o de proporcionar um melhoramento significativo na saúde do paciente, aumentando a sua produtividade, incrementando a sua auto-estima, fortalecendo em geral o seu nível de ajustamento e reduzindo a tensão na família.
(*) Baseado em Dissertação de Mestrado subjugada ao tema “Transplantação Pulmonar: Como se sobrevive a uma morte anunciada?”, Fevereiro de 2003.
O meu sincero agradecimento ao Prof. Doutor Rui
Aragão pelo acompanhamento deste trabalho.
(**) Mestre em Psicopatologia e Psicologia Clínica e bolseira de Doutoramento em Psicologia Aplicada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Bunzel (1992), citando Shapiro, refere que a transplantação é um processo e não um acontecimento. É um processo que continua ao longo de toda a vida do receptor. Apesar do ênfase que se coloca no acto cirúrgico, é o que o precede e o que se lhe segue que é, para os pacientes e para aqueles que o rodeiam, o permanente foco de atenção. São profundos os problemas psicossociais a enfrentar antes e depois do transplante.
Tal como confirma Bohachick (1992) a transplantação é um processo que se conceptualiza numa série de etapas que envolvem stressores significativos. O reconhecimento da doença ameaçadora da vida é o primeiro grande confronto.
A vida do dia a dia anterior ao transplante é caracterizada por uma constante sensação física de estar doente. São frequentes os contactos com os médicos e hospitais, por forma a manter o melhor possível a condição do paciente, prevenindo a sua deterioração ou morte.
A constante ameaça de morte e a incerteza do prognóstico de vida, são desafios fundamentais.
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