A VIDA É BELA
Horizonte,
Belo Horizonte, v. 7, n. 14, p. 136-155, jun. 2009
- ISSN:
2175-5841
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Ele afirma que o misticismo não tende ao estado de ação, mas de “pos sessão”, pelo qual o indivíduo não é um instrumento, mas um receptáculo do divino. Desse modo, a ação mundana tem que se manifestar como um perigo para o transe reli gioso totalmente irracional e extramundano. O ascetismo racionalmente ativo, por outro lado, func iona no interior do mundo ao afirmar seu poder sobre o mundo, e tenta dominar o que é animal e per verso por meio do trabalho em uma “vocação mundana”. Para Weber, esse ascetismo contrasta radi calmente com o misticismo, se o segundo chega à conclusão de fuga do mundo. O contraste ent re eles se reduz se o místico contemplativo não chega à conclusão de que ele deve fugir do mundo, m as, como os ascetas intramundanos, permanece nas ordens do mundo.
Weber discute esse tema de modo conclusivo, compara ndo o Ocidente e o
Oriente:
A diferença histórica decisiva entre os tipos de re ligiões de salvação, predominantemente orientais e asiáticas, e aquelas encontradas primor dialmente no Ocidente, é que as primeiras geralmente culminam em contemplação e as segundas e m ascetismo. A grande importância desta distinção, mesmo para nossa pura consideração empírica das religiões, não é de forma alguma diminuída pelo fato de que a distinção é flu ida: há recorrentes combinações de características místicas e ascéticas demonstrando q ue esses elementos heterogêneos podem se combinar, como na religiosidade monástica [catól ica] do Ocidente. (WEBER, 1966, p.
177).
Em suma, no caso do misticismo, a religião propõe q ue o homem seja um “recipiente” do divino em contemplação, o que pressupõe uma abstenç ão de toda atividade mundana, para que se crie um vazio interior, que deve ser preenchido por esse divino contemplado. Nesse caso, há uma postura de renúncia do mundo e uma glorificação do ócio racional e