A velha
- Que negra vida, que negra vida! Estou tão velha como o tempo e ainda preciso de trabalhar. E não tenho nem filho nem filha que me ajude. Se não fossem as fadas que seria de mim?
Quando eu era pequena brincava na floresta e os animais, as folhas e as flores brincavam comigo. A minha mãe penteava os meus cabelos e punha uma fita a dançar no meu vestido. Agora, se não fossem as fadas, que seria de mim?
Quando eu era nova ria o dia todo. Nos bailes dançava sempre sem parar. Tinha muito mais do que cem amigos. Agora sou velha, não tenho ninguém. Se não fossem as fadas que seria de mim?
Quando eu era nova tinha namorados que me diziam que eu era linda, e me atiravam cravos quando eu passava. Agora os garotos correm atrás de mim, chamam-me "velha", "velha", e atiram-me pedras. Se não fossem as fadas que seria de mim? Quando eu era nova tinha um palácio, vestidos de seda, aios e lacaios. Agora estou velha e não tenho nada. Se não fossem as fadas que seria de mim?
Oriana ouvia esta lamentação todas as manhãs e todas as manhãs ficava triste, cheia de pena da velha, tão curvada, tão enrugada e tão sozinha, que passava os dias inteiros a resmungar e a suspirar.
As fadas só se mostram às crianças, aos animais, às árvores e às flores. Por isso a velha nunca via Oriana; mas, embora não a visse, sabia que ela estava ali, pronta a ajudá-la.
Depois de ter varrido a casa, a velha acendeu o lume e pôs água a ferver. Abriu a lata do café e disse:
- Não tenho café.
Oriana tocou com a sua varinha de condão na lata e a lata encheu-se de café.
A velha fez o café e depois pegou na caneca do leite e disse:
- Não tenho leite.
Oriana tocou com a sua varinha de condão na caneca e a caneca encheu-se de leite A