A utopia: suas duas mãos e pernas quebradas
- Cecília Meireles
A palavra utopia é uma criação do inglês Thomas Morus, que idealizou uma ilha onde todos pudessem usufruir de boas condições de vida e desfrutar de uma sociedade justa e sem desequilíbrios econômicos e sociais. O mesmo idealizou Cristo, Gandhi, Sócrates, Marx. No entanto, esse sonho de uma sociedade mais justa e igualitária parece estar definhando à medida que iPods, telefones celulares e carros automáticos vêm preenchendo o vazio, antes ocupado por grandes sonhos e colocados em prática por grandes sonhadores.
A priori, seria impossível imaginar uma vida sem utopia, sem sonho, sem esperança. Esses são os fatores que mantêm o funcionamento das relações e que dão sentido à existência. A utopia é o princípio regulador e mantenedor da perspectiva, trazendo junto ao seu corpo semântico o valor da esperança e do sonho. Assim, fica fácil a inferência de que é ela quem propulsiona o homem a modificar a sociedade em que está inserido a fim de torná-lo útil para si e para os outros, pois utopia só existe se houver como objetivo principal o coletivo. É ela quem nos leva à Pasárgada, onde andaremos de bicicleta, montaremos burro brabo, onde tomaremos banho de mar.
Coisas essas que não fazemos hoje por estarmos entretidos com nossos ipods, telefones celulares e televisores digitais. Parafernálias, tão efemeramente modernas, que nos tornam obcecados pela perecibilidade e pela praticidade alienante e alienada. Coisas tais que têm ocupado nossos átrios e modificado nosso espírito, orientando nossas atitudes para o consumismo desmedido e desnecessário, tornando a sociedade uma fábrica de gente mais ou menos, de pais mais ou menos, de filhos mais ou menos. Sociedade essa, desnatada, que tornou-se escola de