A Terceira Fase De Carlos Drummond
Em sua fase social, Drummond buscava transformar o mundo através da poesia. A partir da década de 50, no entanto, ocorre um desencanto em relação a suas aventuras políticas, e seus poemas passam a ser concebidos sobre o signo do não, ou seja, pautados por um pessimismo ainda maior que o da fase gauche, pois o mundo da Guerra Fria parece esconder novas tragédias.
O pessimismo dessa fase é corrosivo, ácido, uma vez que a esperança de solução no plano social já se frustrou. Acompanhar seus poemas, agora, é entrar no labirinto de um discurso paradoxalmente tortuoso e lúcido: a complexidade de pensamentos negativos se dá na associação de imagens límpidas e rigorosas; em contínuo aprofundamento, elas fazem ver a metafísica de um vazio que toma conta da alma.
Os livros representativos dessa fase são Claro Enigma, de 1951, Fazendeiro do ar, de 55, e Vida passada a limpo, de 59.
Ocorre, ainda nessa fase, uma outra orientação na poesia de Carlos Drummond, a chamada poesia nominal, evidenciada no livro Lição de coisas, de 1962, em cuja linguagem o verso e a palavra são violentados, desintegrados, com o emprego de neologismos, aliterações, sugestões visuais e rupturas sintáticas. Essa postura aproxima-se das propostas do Concretismo, podendo-se perceber nos versos abaixo, do poema Amar.
O árvore a mar o doce de pássaro a passa de pêsame o cio da poesia a força do destino a pátria a saciedade o cudelume Ulalume o zumzum de Zeus o bômbix o ptyx
A VIDA PASSADA A LIMPO
Ó esplendida lua, debruçada sobre Joaquim Nabuco, 81.
Tu não banhas apenas a fachada e o quarto de dormir, prenda comum.
Baixas a um vago em mim, onde nenhum halo humano ou divino fez pousada, e me penetras, lâmina de Ogum, e sou uma lagoa iluminada.
Tudo branco, no tempo. Que limpeza nos resíduos e vozes e na cor que era sinistra, e agora, flor surpresa,
já não destila mágoa nem furor: fruto de aceitação da natureza, essa alvura de morte