A solidão dos números primos
Vidas paralelas que se aproximam no deslocamento e desajuste com o mundo. Na infância uma tragédia particular marca o corpo e a mente de ambos. Mattia convive com a culpa por ter abandonado a irmã gêmea, sendo que o desaparecimento da criança desencadeia no garoto um comportamento arredio e autodestrutivo. Alice, após sofrer um acidente de esqui que a deixa manca, tenta disfarçar a insegurança e esconder da família a anorexia. Ela se refugia na fotografia e ele na matemática. Ela tenta se ajustar ao mundo enquanto ele recusa qualquer tentativa de adaptação. No desvio de interesses, o encontro e o reconhecimento.
“Porque Alice e Mattia estavam unidos por um fio elástico e invisível, encoberto por um monte de coisas sem importância, um fio que podia existir apenas entre pessoas como eles: dois que reconhecem a própria solidão, um no outro”. Dos tempos de colégio à vida adulta estabelecem uma relação bastante singular. Parceiros, mas incapazes de transpor a barreira oculta que os separa, tal como os números primos. “Mattia achava que ele e Alice eram assim, dois primos gêmeos sós e perdidos, próximos, mas não o bastante para se tocar de verdade”.
A base da relação é também o seu ponto frágil, o isolamento social e a vulnerabilidade emocional que os aproxima também representa a maior lacuna no relacionamento. No cenário desfilam personagens complexos, mas que são facilmente identificados em nosso cotidiano, indivíduos que apesar da aparente estabilidade e auto-suficiência muitas vezes ocultam traumas que causam desconforto, sofrimento e dor. Basta observar: vivem em desacordo com o mundo e consigo mesmo, em permanente estado de fuga, são muitas vezes negligenciados pela família, invisíveis e indiferentes à sociedade.
A narrativa apresenta a evolução cronológica dos personagens: infância, adolescência e juventude (1987-2007), bem como Vidas paralelas que se aproximam no deslocamento e desajuste com o mundo. Na infância uma