A república do silêncio
Da peleja do coronel e o vigário, nasceu um país
Flávio Mateus dos Santos
6/11/2009
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Atualmente, Manhuaçu é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais com pouco mais de 600 km². No século XIX, porém, chegou a ser um país independente com uma área quase trinta vezes maior. A experiência da República de Manhuassu (com “ss” para respeitar a grafia da época) durou apenas 22 dias. Tempo suficiente para criar um tabu que relegou a revolta a um silêncio permanente.
As largas plantações de café da região davam a energia que os coronéis precisavam para disputarem a administração do local. A proximidade com o litoral, a pecuária e a extração de madeira também tornavam Manhuassu um cobiçado pólo econômico, que atraía diversos forasteiros. Além dos assassinatos, o poder também era assegurado através da imprensa local, como o jornal ‘O Manhuassu’, criado pelo coronel Serafim Tibúrcio.
Eleito prefeito de Manhuassu em 1892, Tibúrcio tentou novamente o cargo dois anos depois. Mas os ventos não estavam a seu favor. Se o coronel era amigo pessoal do governador de Minas durante a presidência de Deodoro da Fonseca (1889 – 1891), o cenário era outro na gestão de Prudente de Morais (1894 – 1898).
Em 1894, o governador de Minas era Crispim Jacques Bias Fortes, simpatizante da ala política contrária a Serafim e apoiador do vigário Odorico Dolabela, seu concorrente no pleito. Nas urnas, 623 votos separaram o coronel do vigário. Porém, apesar do apoio popular, Tibúrcio não assumiu o comando da cidade. De certa maneira, o poder de mando dos chefes políticos locais era institucionalizado pela legislação, que dava grande autonomia do município em relação ao Estado.
Os oposicionistas não tinham muitas chances de ingressar na política, em especial devido à degola da Comissão de Verificação de Poder, formada por chefes políticos locais e a