A republica
Platão
Livro IX
- I -
Antes de examinar o homem tirânico, Sócrates acha necessário pesquisar sobre os desejos. Segundo ele, há prazeres não-necessários, à margem da lei, que existem no íntimo de cada um, reprimidos por desejos mais nobres e pela lei. Estes desejos são aqueles que surgem durante o sono – quando a parte racional e mansa da alma está dormindo e a parte animal e selvagem se faz presente de forma ativa. São caracterizados pela irracionalidade e pela impudicícia.
- II -
Sócrates exemplifica um homem levado ao desregramento devido à “liberdade total” - desejos vãos e banais -, esvaziando-se de opiniões e desejos nobres, ficando isento de temperança. “Um homem se torna tirânico no sentido estrito quando, por natureza e por seus hábitos, ou por ambos os motivos, torna-se um bêbado, um enamorado, um rancoroso”.
- III -
Este homem se dá a solenidades, festas, banquetes, cortesãs, etc. Gasta seus rendimentos e dilapida seu patrimônio. Quando este se esgota, tenta enganar e roubar os pais para se apossar de seus bens; em seguida dá-se ao furto e à pilhagem. Quando são muitos os homens deste tipo na cidade e eles percebem a multidão que formam, engendram (com a colaboração da insensatez do povo) o tirano. Caso a cidade não se submeta, torná-la-á escrava (sua meta final) sob o jugo de companheiros que levará para dentro dela. Os homens tirânicos de ninguém são amigos, mas sempre são senhores de alguém ou escravos de outro; nunca provarão o gosto da liberdade e da amizade verdadeira; são desleais e injustos ao mais alto grau. Pior homem de todos: aquele que, acordado, é como quem sonha. Aquele que, já sendo tirânico, exerce sozinho o governo, tende a tornar-se assim – e, quanto mais tempo permanece, mais se acentua seus traços de tirano.
- IV -
Do ponto de vista da semelhança, o homem tirânico corresponde à cidade de governo tirânico e o homem democrático à de governo