A relação narrador-obra-leitor presente no romance memórias de um sargento de milícias
Vércia Gonçalves Conceição
É sabido que no período correspondente ao estilo romântico, século XVIII, a prosa é difundida em forma de folhetim, ou seja, o leitor não tinha acesso à obra na íntegra em uma única oportunidade, mas de forma fragmentada. Sabe-se, também, que o público leitor deste período era formado, em sua maioria, por mulheres. Isto porque a maioria da população não tinha hábito, nem tempo, nem dinheiro para dedicar à literatura. Dessa forma, apenas as mulheres, principalmente as burguesas, foram consumidoras, durante muito tempo, dos folhetins e, conseqüentemente, do romance - produções criadas para atender aos anseios das leitoras, ou seja, eram narrativas que fugiam ao real, que retratavam uma realidade superior, transcendente.
Em vista disso, percebe-se uma característica marcante, talvez uma necessidade, do narrador deste estilo de época: ele é aquele que constrói e conduz o leitor com chamadas, de forma a situá-lo na leitura sob sua tutela. Na obra Memórias de um sargento de milícias, Manoel Antônio de Almeida não faz diferente - embora se trate de uma narrativa pícara, cujo herói foge ao modelo do herói romântico idealizado pelas mulheres - ele nos apresenta um narrador que tanto interage, quanto procura estreitar laços com o leitor, como mostram os trechos que seguem:
Vamos fazer o leitor tomar conhecimento com um desses ativos militares, que entra também na nossa história. (p.30)
Cumpre-nos agora dizer alguma coisa a respeito de uma personagem que representará no correr desta história um importante papel, e que o leitor apenas conhece, porque nela tocamos de passagem no primeiro capítulo: é a comadre, a parteira... (p.27)
Como se pôde notar, no trecho citado acima, ao falar na importância da personagem - a parteira - ele induz o leitor a concebê-la, também, como um papel importante