A reconstrução dos direitos humanos: a contribuição de Hannah Arendt
Celso Lafer
Celso Lafter apresenta o texto com uma citação do poeta grego Arquíloco, o qual versa “Muitas coisas sabe a raposa; mas o ouriço uma grande”, e discorre sobre a classificação proposta por Isaiah Berlin que coloca os ouriços como aqueles que tudo referem uma visão unitária e coerente, a qual opera como um projeto organizador fundamental de tudo o que pensam. São os que possuem uma perspectiva centrípeta e monista da realidade. As raposas seriam aqueles que se interessam por coisas várias, perseguem múltiplos fins e objetivos, cuja interconexão, ademais, não é nem óbvia nem explícita. A tendência que aí se manifesta é centrífuga e pluralista. Assim, concerne esse dualismo (dicotomia) uma visão que não seja taxativa de duas partes incomunicáveis, num “aut/aut” que absolutiza a diferença, mas propõe que pode ser concebida como pólos de um contínuo com função pluralista voltada para iluminar uma realidade ontologicamente complexa.
Nesse sentido o autor, baseando-se em aspectos metodológicos utilizados por Norberto Bobbio, valer-se-á da dicotomia da raposa/ ouriço para discutir a contribuição de Hannah Arendt para a temática dos direitos humanos, fruto de uma reflexão sobre o significado do totalitarismo.
A visão arendtiana, é uma visão de raposa, pois na sua percepção da realidade, vê antologicamente complexa e rica nas suas particularidades e contingências e na sua proposta de reconstrução, após a ruptura já diagnosticada. Tal proposta fundamenta-se em uma retomada crítica do pensamento ocidental, que almeja os exames das condições políticas e jurídicas que permitam assegurar um mundo comum. Um mundo marcado pela pluralidade e pela diversidade e vivificado pela criatividade do novo, o qual, através do exercício da liberdade que impediria o ressurgimento de um novo estado totalitário de natureza.
A ubiqüidade da pobreza e da miséria, a ameaça do holocausto nuclear, a irrupção da