A prosa de Jorge Amado
Ana Elvira Luciano Gebara e Silvia Helena Nogueira
Escrevendo Tereza Batista cansada de guerra, Salvador, 1972
56 Caderno
de
Leituras
Em suas obras, Jorge Amado retrata os costumes da sociedade baiana em diferentes épocas, mesclando o tom humorístico à visão otimista de mundo. As tramas de A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, Capitães da Areia, O compadre de Ogum e O sumiço da santa compõem-se da naturalidade de uma linguagem crua e lírica.
Sua produção apresenta recursos estilísticos expressivos que aderem à multi plicidade temática. A variada rede de recursos mostra que é enganosa a imagem de um escritor supostamente ingênuo. Na verdade, Amado escreve com habilidade, ao criar heróis populares que se inserem na galeria de “malandros” da literatura brasileira. Possivelmente o primeiro deles tenha sido o Leonardo criado por
Manuel Antonio de Almeida, em Memórias de um sargento de milícias, como mostra o ensaio “Dialética da malandragem”, de Antonio Candido.
O malandro é personagem que transita por todas as camadas sociais, rela ciona-se com diferentes pessoas e adapta-se às mais diversas situações. Ágil e livre, atravessa dificuldades e geralmente atinge o “final feliz”. Por vezes tem conduta inadequada, sem que a punição seja severa. Na nossa literatura, há uma galeria de malandros, entre os quais poderiam figurar alguns personagens amadianos pelo modo como agem e se expressam. Vadinho, de Dona
Flor e seus dois maridos, é um exemplo. Outro é o grupo de garotos de Capitães da Areia:
Na lavagem das escadarias da igreja de Nosso
Senhor
do Bonfim,
Salvador, anos
1940
— Olha, Grande, o tal em pregado tá sentado em riba
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do embrulho. Tu vai chegar na porta da rua, apertar a campainha e sumir depois.
É pro homem se levantar e eu abafar o embrulho. Mas dá o suíte logo pro homem não te ver, pensar que foi sonho. Deixa