a princesa que perdeu a fala
Quanto ao resto, era igual às outras princesas. Até talvez mais bonita.
Pena que não se casasse. Pretendentes não lhe faltaram, todos nobres e distintos moços, mas a princesa fazia uma careta mal os via e estava tudo dito.
O rei, irmão da princesa, tinha muita pena dela e tudo daria para curá-la daquele estranho mal. E também gostaria que ela se casasse e fosse feliz.
Um dia, anunciaram que a comitiva de um príncipe estrangeiro, vindo de muito longe, se acercava do palácio para prestar homenagem ao rei e à princesa.
— Outro pretendente — comentaram os fidalgos da corte.
— Outra careta da princesa — comentaram os fidalgos da corte.
O príncipe vinha embuçado. Nem um bocadinho da cara se lhe via. Só os olhos.
Depois de reunir-se com o rei, foi apresentado à princesa.
— Minha querida irmã, este príncipe de terras distantes manifestou-me, com muito boas razões e promessas de aliança, o seu profundo desejo de desposar-te.
Isto disse o rei para a irmã. E continuou:
— A proposta pareceu-me tão interessante para o nosso reino, que eu não vejo motivo para que tu, mais uma vez, me contraries. Tantas foram as tuas caretas aos anteriores pretendentes, que não tolero nem mais uma recusa.
A princesa, de cara fechada, apertava os lábios. Ela era muda, mas não era surda e não estava nada agradada com o que ouvia. Nunca o irmão se lhe dirigira com tanta severidade.
— Desta vez, quando o príncipe se aproximar de ti, para se declarar, tens de oferecer--lhe o teu melhor dos sorrisos — recomendava-lhe o rei.
Nada fazia prever que o tal sorriso despertasse no rosto crispado e colérico da princesa.
Veio o príncipe de cara tapada.
— Ele parece que não é dotado de grande beleza, mas será certamente um bom marido — segredou-lhe o mano.
Caiu ao príncipe a capa que o ocultava.