A paz de deus
A reforma cluniacense teve efeitos positivos também na vida da Igreja universal. Com efeito, a aspiração à perfeição evangélica representou um estímulo para combater dois graves males que afligiam a Igreja daquele período: a simonia (aquisição de cargos pastorais com gratificações) e a imoralidade do clero secular (o celibato dos sacerdotes voltou a ser estimado e vivido). Abades e monges de Cluny tornaram-se Bispos e alguns até Papas, que protagonizaram esta magnificente acção de renovação espiritual. Significativos foram também os benefícios oferecidos à sociedade pelos mosteiros inspirados na reforma cluniacense. Numa época em que só as instituições eclesiásticas se ocupavam dos indigentes, foi praticada com empenho a caridade. Em todas as casas, instituiu-se a prática de hospedar os viandantes e peregrinos necessitados, os sacerdotes e religiosos em viagem e, sobretudo, os pobres que pediam alimento e hospedagem por alguns dias. Além disso, Cluny promoveu as chamadas "tréguas de Deus" e a "paz de Deus". Desse modo, em tempos de violências e vinganças, com as "tréguas de Deus" garantiam-se longas temporadas de não beligerância, por ocasião de determinadas festas religiosas e em alguns dias da semana. Com a "paz de Deus" pedia-se, sob a pena de uma censura canónica, para respeitar as pessoas indefesas e os lugares sagrados. Assim, se estabelecia, na consciência dos povos da Europa, aquele procedimento de longa gestação que levou a reconhecer, de modo cada vez mais claro, dois elementos fundamentais para a construção da sociedade: o valor da pessoa humana e o bem fundamental da paz. Dispondo alguns mosteiros e fundações monásticas de amplas propriedades, postas diligentemente a frutificar, contribuíram, desse modo, para o desenvolvimento da economia. A par do trabalho manual, não faltaram também as típicas actividades culturais do monaquismo medieval, como escolas para as crianças, elaboração de bibliotecas e scriptoria para a