a onda
CUMPRIDAS E ESPERADAS
Abordar os eventos que ocorreram às margens do rio Vaza-barris, sertão baiano, em meados da última década do século passado sempre foi uma empreitada instigante, empolgante e difícil. O arraial restaurado e organizado em 1893 por Antônio Vicente
Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, para o qual acorreram milhares de pessoas nos anos seguintes, continua a desafiar quem pretenda dar-lhe uma interpretação cabal. As razões de este arraial ter crescido vertiginosamente e a tenaz pertinência demonstrada por seus guerreiros quando dos confrontos com as forças repressoras que haveriam de levar a cidadela à ruína total, em outubro de 1897, estes são alguns dados que chamam a atenção.
A complexidade do que lá ocorreu fez com que não tenham sido poucas as propostas de interpretá-la. A categorias pré-definidas e ao mesmo tempo imprecisas, como messianismo, sebastianismo e milenarismo se tem recorrido, já desde Euclides da
Cunha.2 E a influência avassaladora que este livro exerceu na cultura brasileira do século XX fez dele praticamente a única voz autorizada a respeito do que ocorrera nos sertões baianos no arraial liderado por Antônio Conselheiro.
No entanto, a utilização apressada destes conceitos, às vezes tidos como distintos, na maior parte dos casos identificados ou associados, em relação ao arraial conselheirista acabou por comprometer a compreensão da sua dinâmica cotidiana, bem como de suas compreensões e vivências religiosas. Pretende-se nesta comunicação levantar algumas questões a estas visões convencionais, bem como sugerir elementos para uma recolocação do problema.
Nossa apresentação se dividirá em dois momentos principais: num primeiro exporemos a visão que desde Euclides da Cunha se firmou como a dominante sobre as convicções religiosas de Antônio Conselheiro e sua gente, acentuando particularmente a perspectiva milenarista, não sem já irmos