A Obra de Platão e o Problema de Sócrates
Platão foi, provavelmente, o maior de todos os pensadores da história da filosofia. Tal afirmação não possui nada de arbitrário, pois seu prestígio perpassa todos os séculos que se seguiram após a escritura de sua obra, e está lastrada pelos louvores que lhe dedicaram filósofos como Cícero, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger, por exemplo.
Porém, se Platão ganhou fama como autor, ao transformar a filosofia em dramaturgia, foi Sócrates quem realmente ficou imortal em nosso imaginário. Ele, que não nos deixou nenhum escrito, foi transformado pelo seu discípulo no personagem principal dos diálogos. Sua imagem ganhou tanto destaque que Sócrates até hoje é reverenciado como a imagem clássica de sábio e de filósofo – uma espécie de “pai” da filosofia.
Aqui, entretanto, nos defrontamos com um problema: como distinguir, nos Diálogos de Platão, aquilo que corresponde ao Sócrates real e aquilo que é fictício – que Platão inventou para tornar ainda mais célebre a fama de seu mestre?
Isto não é tarefa fácil, e talvez seja até impossível definir até que ponto Platão retratou de fato o pensamento de Sócrates, e até que ponto ele o utilizou como personagem para veicular sua própria filosofia. O “problema de Sócrates” – como é conhecida a questão sobre a possibilidade de reconstituir o verdadeiro pensamento e filosofia de Sócrates – é, portanto, irresolúvel. Porém, temos fortes motivos para acreditar que, dentre os 35 diálogos escritos ou atribuídos a Platão que chegaram aos dias de hoje, aqueles que retratam apenas a Sócrates refutando teses de diversos atenienses em praça pública correspondam aos seus diálogos de juventude. Diálogos mistos, em que Sócrates ainda aparece como personagem principal, porém não se limita a refutar seus interlocutores ou faze-los cair em aporia (ou seja, deixá-los “sem saída” e demonstram que não possuem conhecimento algum sobre aquilo que acreditam conhecer), mas também promove uma doutrina