A noticia
(Texto extraído do livro Ideologia e Técnica da Notícia, Nilson Lage)
1. O produto industrial
Se considerarmos que a notícia, no sentido mais amplo e desde o tempo mais antigo, tem sido o modo corrente de transmissão da experiência – isto é, a articulação simbólica que transporta a consciência do fato a quem não o presenciou – parecerá estranho que dela não se tenha construído uma teoria.
As notícias eram, até a Revolução Industrial e suas conseqüências para a indústria jornalística, relatos de acontecimentos importantes – para o comércio, os meios políticos, as manufaturas. Muito rapidamente, com a conquista do grande público, passaram a ser artigos de consumo, sujeitos a acabamento padronizado, embalados conforme as técnicas de marketing.
Artesanal, a notícia incorporava, de início (e incorpora ainda, nos testemunhos), crenças e perspectivas individuais. Impessoal, tende, nos meios de comunicação social de agora, a produzir-se de modo que aparentemente eliminam-se crenças e perspectivas. No entanto, a melhor técnica apenas oculta preconceitos e pontos de vista do grupo social dominante. O maior prestígio recai sobre as notícias desprovidas de emoção, o que corresponde à preocupação de abarcar intelectualmente o mundo (conhecê-lo, dominá-lo) sem envolver-se afetivamente – proposta que está, sem dúvida, na razia, tronco e ramos da neurose burguesa.
Mudou, de fato, o modo de produção da notícia: crenças e perspectivas nela incluídas não são mais as do indivíduo que a produzia, mas da coletividade hoje produtora, cujas tensões refletem contradições de classe ou de cultura. Provavelmente uma boa razão para o descrédito contemporâneo de uma teoria da notícia se encontre no caráter coletivo, industrial, da produção desse bem simbólico. O liberalismo coloca no indivíduo (professor, artista, cientista, político) a quintessência do bom racionalismo e da criatividade, atribuindo às coletividades a irracionalidade má, o rotineirismo. Por não