A morte desejada ou a preparação para a morte em raul seixas
A idéia da morte nos remete aos sentimentos de perda, de vazio, de solidão, que despertam atitudes como o medo e a não aceitação. Raul Seixas, em “Canto para a minha Morte” (1976), diz
Eu sei que determinada rua que eu já passei Não tornará a ouvir o som dos meus passos. Tem uma revista que eu guardo há muitos anos E que nunca mais eu vou abrir. Cada vez que eu me despeço de uma pessoa Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez A morte, surda, caminha ao meu lado E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
A morte mesmo sendo nossa única certeza, vem de uma forma inesperada. Se tornando um dos problemas mais difíceis de ser enfrentado, pois foi sempre vista como mistério, superstição e fascinação. Como nunca saberemos como ela virá, porque na hora de prová-la, já não estaremos mais aqui para ver. Ela pode vir tarde demais, ou antes que terminemos de cumprir alguns planos e promessas. Raul Seixas, se interrogava:
Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Assim, todos desejamos um modelo de passagem, isso que dizer que por mais que esperamos que ela chegue sem trazer sofrimento, doce e suave, a idéia de uma preparação para a morte sem dor e desespero só é aceitável quando se acredita que o fim, na verdade, é ou pode ser o começo. E ainda, quando há um apego excessivo à vida, é uma das razões que dificultam a aceitação do fim da existência. Na contra mão disso, há a morte inesperada