A MORTE DE UM MINEIRO
ALICE
É o que eu realmente quero fazer, Jack. Não posso limitar-me a ficar sentada e a olhar. Toda a minha vida… olhei.
Jack, espera. Ouve. Ouve. Eu tenho de fazer isto. Eu tenho…
Deixa-me contar-te. Estás a ver, um dia o meu irmão e uns dez rapazes da escola dele saíram para explorar umas cavernas a uns quilómetros do sítio onde nós vivíamos. Ouve. Eles estiveram lá algumas horas – acho que eles queriam ver onde é que ela ia dar. De súbito houve uma trovoada e começou a chover muito. Bom, levaram mergulhadores até lá… e as câmaras de televisão vieram da cidade… e a chuva continuava.
A minha mãe arrastou o meu pai até à caverna…e todos nós. Ficamos lá todos sentados, com as outras famílias, sentados, alinhados na encosta a olhar para o buraco inundado, as câmaras de televisão a filmar-nos…nós ali sentados…a olhar…a esperar…a olhar…os mergulhadores a tentar abrir caminho através da água para a caverna…a olhar…e voltavam sempre de mãos vazias. A minha mãe limitou-se a ficar ali sentada.
Sentada. E então ela começou…não conseguia evitar, eu sei, mas começou a olhar daquela maneira… a acusar o meu pai com os olhos. Se não tivéssemos de morar neste sítio nada disto teria acontecido… Era o que aquele olhar dizia …Isto é culpa tua…Preferia que fosses tu na caverna e não-…Olha para ti…Não consegues fazer nada…não consegues sequer tirar o meu rapaz daquela caverna…saía-lhe pelos olhos fora. Finalmente, o meu pai não aguentou mais. Correu pela encosta abaixo, começou a tirar as roupas e saltou para a água antes que alguém o conseguisse impedir. Ela não queria que ninguém o impedisse.
Limitava-se a olhar. Ele tentou entrar na caverna umas doze vezes.
Finalmente, convenceram-no a atar uma corda à cintura e ele continuou a tentar…Tentou durante cerca de uma hora…Ela nunca mudou de expressão. O meu irmão morreu nessa caverna. Tiraram os corpos para fora uma semana depois, depois das chuvas terem acabado e as águas secado. O meu pai veio ao meu quarto