a midia antes da maquina
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE SEMIÓTICA DA CULTURA E DA MÍDIA
A MÍDIA ANTES DA MÁQUINA
NORVAL BAITELLO JUNIOR
JB ONLINE, CADERNO IDÉIAS
Sábado, 16 de outubro de 1999
Como primeira mídia do homem, é preciso ver o corpo também como texto capaz de comunicar
Belos e perfeitos corpos nus, também inteiramente despidos de erotismo e sensualidade, propagam os ideais de um estado e de uma política autoritários, mobilizando milhões de espíritos e mentes e massacrando outros milhões de corpos. Corpos jovens em multidões
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caminham juntos em espaço público, braços erguidos demonstrando discordância e protesto, e conduzem a mudanças nos destinos da história. Corpos dilacerados estampados na imprensa e veiculados pela televisão contam histórias de violência e terror, de sangue e morte, reavivam no dia a dia as memórias e as narrativas trágicas de tempos de destruição. Corpos esquálidos, projetos de cadáveres, são retratos e relatos vivos de tempos de fome e miséria, retratos do desequilíbrio que o planeta não consegue administrar. O que todos estes e ainda muitos outros corpos têm em comum em sua imensa diversidade de aparência?
Não resta dúvida que não são apenas corpos, mas também meios de comunicação, aquilo que hoje se chama "mídia".
Harry Pross, em seu pioneiro e surpreendente livro de 1972
Medienforschung (Investigação da Mídia) classifica o corpo como a primeira mídia do homem, como "mídia primária", aquela que funde "em uma [única] pessoa conhecimentos especiais". Esta pessoa torna-se então a mídia. É essa a comunicação que ocorre no flerte, na articulação e na leitura dos gestos e da mímica facial, no movimento e deslocamento no espaço dos estudantes, sindicalistas, movimentos populares e pequenos produtores da agricultura que vão às ruas em passeata, demonstrando com o próprio corpo seu descontentamento
(quem conseguiria imaginar que um banqueiro ou um grande industrial o fizesse de forma semelhante?). Na diplomacia e