A JARARACA 1
Era uma vez – e era mesmo, porque já não é mais – um terreno cheio de mato, desses que existiam aqui perto até algum tempo atrás.
Não era bem na cidade nem era ainda na roça, era quase na metade, entre uma casa e uma palhoça.
E nesse terreno, com muito capim e um lamaçal, com umas flores e uma jaqueira carregadinha de jaca, acabaram de encontrando uma tiririca, uma perereca e uma jararaca.
A Tiririca era uma graminha rasteira, miúda e fuleira... Dessas que todo mundo xingava e arrancava do jardim, num trabalho sem fim. E que nascia sempre de novo. Feito coisa que nunca morre na boca do povo.
A Perereca era parecida com os sapos da lagoa. Mas pequenininha, sapinha à-toa. Uma sapa sapeca. Moleca. Fulustreca. Pra lá e pra cá, de pulo em pulo, de pinote em pinote. Como bola de papel quando leva um piparote.
Mas a Jararaca... ah, essa era uma bruaca. Uma dona perigosa. Uma cobra venenosa. Traiçoeira e preguiçosa.
Tão diferentes... Devia estar cada uma na sua. A Tiririca no jardim. A Perereca na lagoa. A Jararaca no mato. Mas vieram se encontrar no fim de uma rua. No mato, no lixo e no vazio de um imenso terreno baldio.
Uma rua ou uma estrada?
Difícil de dizer na verdade. Um desses lugares que já não são roça e ainda não são cidade.
E lá viviam as três, há mais de um ano e um mês. Cada uma sem se meter com a outra. Como quem chega, acha bom e fica. A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. Mas aí chegaram os outros. E os outros eram os homens. Queriam a terra e o espaço.
- Vamos limpar este terreno! Sem deixar nem um quintal pequeno.
A Jararaca mais forte, logo declarou luta de morte. Não esperou nada. Deu logo um bote, num rápido pinote.
- Uma cobra! Pega! Acaba! Mata! Bate-que-bate. Vupt-vupt. Pegaram. Acabaram. Mataram.
Quando viu isso, a Perereca resolveu sair. E explicou para a Tiririca:
- Não pense que eu estou fugindo e deixando você sozinha. Mas é que alguém precisa estudar bem o inimigo. Saber seus pontos