A igreja
O NOVO ESPAÇO PÚBLICO
A ascensão da dominação do homem celibatário na Igreja cristã nos leva ao reinado de Constantino e além. O que as diversas formas de celibato têm em comum desde o primeiro período é a vontade de criar um espaço ''público" firmemente traçado no seio da vaga federação de famílias que compõem a comunidade cristã. Um espaço "público" criado no próprio corpo dos dirigentes. De qualquer modo que se estabeleça, o celibato significa para a comunidade cristã a supressão do que ela considera uma das fontes mais íntimas de motivações e a que desmantela os laços sociais mais privados dos quais dependem a continuidade e a coesão de uma sociedade normal. Tem como efeito situar a sociedade na Igreja, dirigida e representada em público por homens celibatários, perante a sociedade "do mundo", na qual imperam o orgulho dos homens de "coração dividido", a ambição e as solidariedades tenazes de família e parentesco.
Tal celibato frequentemente assume a forma da abstinência sexual dos cônjuges. Em geral é adotado em idade madura e mais tarde será imposto aos padres com mais de trinta anos. É sob essa forma que o celibato se torna a norma esperada do clero citadino médio no período da Antiguidade tardia. Não se trata de uma renúncia excessivamente impressionante. Os homens da Antiguidade consideram a energia sexual como uma substância volátil, rapidamente esgotada nos "calores" da juventude. As duras realidades da mortalidade numa sociedade antiga asseguram uma reserva permanente de viúvos sérios, disponíveis desde o início da idade madura e livres para se entregar "esgotada toda paixão", às alegrias mais públicas do cargo clerical. Assim, o celibato designa de modo inequívoco a existência de uma classe de pessoas que ocupa o centro da vida ''pública" da Igreja, precisamente porque se subtraíram em definitivo ao que é considerado como o mais privado na vida do leigo médio "no mundo". Inspirado por uma Iembrança errónea do Pastor de Hermas,