A Idade Das Palavras
A idade das palavras
Walcyr Carrasco | 07/03/2007
Já cansei de ver gente madura falando gíria para parecer jovem. O trágico é que, em geral, a gíria é velha!
Verbos, adjetivos e substantivos possuem maior permanência. Gíria é volátil. Terrível ver uma senhora madura e plastificada dizendo:
– Eu sou prafrentex!
O termo foi usado lá pela década de 60 para dizer que alguém aceitava comportamentos mais ousados, tipo viajar no fim de semana para a praia com um grupo de amigos, o máximo de liberdade imaginável até então. É passado. Assim como as variações para falar de homem bonito. Houve época em que era
"pão", lá pelos anos 80 virou "lasanha". Agora se usa gato, se não estou atrasado. Volta e meia noto uma cinquentona exclamar à passagem de algum atleta:
– Ai, que pão!
Esse é o mal das gírias. Marcam a juventude de cada um. O tempo passa. Fica difícil mudar o modo de falar. Às vezes ainda ouço um "é uma brasa, mora", usado por Roberto Carlos nos tempos do programa
Jovem Guarda, início dos 60. Lembro do sucesso de "boko moko", criado por uma marca de refrigerante para identificar quem era cafona e não tomava a tal bebida. Caiu na boca do povo. Cafona vale? Ou devo dizer "out", como na década de 90?
As palavras expressam sua época. Certa vez estava escrevendo uma novela passada nos anos 20 e coloquei a expressão "vou tirar você do meu caderninho". Meu pesquisador me orientou:
– Naquele tempo poucas pessoas tinham telefone em casa. Não se falava assim.
O tal "caderninho" correspondia à agenda telefônica. Só passou a ser comum quando o aparelho se tornou mais popular.
Para escrever outra novela de época, passada no século XVIII, eu recorria ao raciocínio puro e simples para definir o modo de falar. Descobri que "comer à tripa forra" tinha a ver com o período da escravidão.
O negro liberto era "forro". Deduzi que significava comer à vontade.
Outro dia, vendo uma reportagem de televisão, observei uma família simples com o telefone de teclas.
Todo mundo tem. Até