a história das coisas
Cresci em Seattle, na década de 1970. Nas férias de verão, rumava com minha família para as montanhas do parque nacional North Cascades. A cada ano notava mais casas e centros comerciais ao longo da estrada, ao passo que minhas adoradas florestas diminuíam visivelmente de extensão.
Por que estavam desaparecendo?
Só anos mais tarde, já morando em Nova York, pude entender por que minhas florestas estavam sumindo. Eu tinha aulas de meio ambiente no campus do Barnard College, no Upper West Side de Manhattan, a seis quadras do meu alojamento. De manhã bem cedo eu perfazia o trajeto, sonolenta, observando as infindáveis pilhas de lixo pelas calçadas. Dez horas depois, no caminho de volta, as ruas estavam limpas. No dia seguinte, novamente estavam lá os monturos, ao longo de todo o percurso. O que havia naquele lixo? Comecei a investigar e descobri que cerca de 40% do lixo doméstico dos Estados Unidos são compostos de produtos feitos de papel.¹ Papel! Era ali que minhas árvores iam parar! As deslumbrantes florestas da fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá iam para os latões das calçadas do Upper West Side. E daí seguiam para onde?
Minha curiosidade aguçou. Então viajei até o infame aterro sanitário de Fresh Kills, em Staten Island: com cerca de doze quilômetros quadrados, era um dos maiores lixões do mundo. Jamais havia visto algo parecido.
Fiquei parada na entrada do aterro, absolutamente perplexa. Em todas as direções, até onde minha vista alcançava, havia sofás destruídos, aparelhos, caixas de papelão, roupas, sacos plásticos, livros e toneladas de Coisas e mais Coisas. Quando o aterro foi fechado oficialmente, em 200, alguns diziam que aquela montanha fedorenta era a maior estrutura feita pelo homem, com um volume maior que a Muralha da China e picos 24 metros mais altos que a Estátua da Liberdade.²
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A história das Coisas
Fui criada por uma mãe solteira da era pós-Depressão que passou aos filhos um senso