A Historicidade de Pedro Archanjo
“Sou um mestiço, tenho do negro e do branco, sou branco e negro ao mesmo tempo. Nasci no candomblé, cresci com os orixás e ainda moço assumi um alto posto no terreiro. Sabe o que significa Ojuobá? Sou os olhos de Xangô, meu ilustre professor. Tenho um compromisso, uma responsabilidade”.(AMADO, 1971, p. 316).
Maria Almeida
Professor Marcos Antonio da Silva
Universidade de São Paulo
Assim como boa parte dos famigerados personagens do romancista Jorge Amado, o multifacetado Pedro Archanjo de “Tenda dos Milagres” é um perfeito perfil de diversos períodos e situações histórico-sociais, juntando em uma única imagem um universo de representações populares. Em outras palavras, Pedro Archanjo reúne em si, toda a saga da luta das classes populares subestimadas por uma elite de seu tempo por um papel ativo e célebre em uma sociedade que não valoriza suas próprias raízes.
Archanjo é o retrato de um homem fadado ao fracasso, ostracismo e comodismo: um homem mestiço, pobre, boêmio, mulherengo e praticante assíduo do candomblé – religião até hoje muito injustamente descriminada e envolta em uma névoa de preconceitos.
Entretanto, ao contrário do que se espera, Pedro Archanjo torna-se ao decorrer de sua vida, um intelectual autodidata, influenciado também pelo seu convívio na cátedra acadêmica da Faculdade de Medicina de Salvador, onde trabalhava como Bedel.Esse convívio também culmina no constante incomodo gerado por Archanjo na “elite branca” que freqüenta – e a quem pertence – o meio acadêmico.
O personagem dedica-se a análise e formulação de teses sobre os mais diversos temas ligados a cultura baiana, e especialmente, à cultura dos oprimidos, escrevendo obras documentais brilhantes que procuram exaltar a mestiçagem, preservando e difundindo também a cultura popular. Torna-se um “pesquisador da formação étnica e cultural da Bahia”.
A corajosa posição de Archanjo ao enaltecer os oprimidos e