A falecida
A falecida
Tragédia carioca em 3 atos
(1953)
PERSONAGENS
Madame Crisálida
Zulmira
Tuninho
Menino
Primeiro funcionário
Timbira
Segundo funcionário
Oromar
Pimentel
Chofer
Parceiro primeiro
Parceiro segundo
Dr. Borborema
Cunhado
Pai
Vizinha
D.Ceci
Mãe
Sogro
Sogra
PRIMEIRO ATO
(Cena vazia. Fundo de cortinas. Os personagens é que, por vezes, segundo a necessidade, trazem e levam, cadeiras, mesinhas, travesseiros que são indicações sintéticas dos múltiplos ambientes. Luz móvel. Entra Zulmira, de guarda-chuva aberto. Teoricamente está desabando um aguaceiro na porta, também imaginário. Surge Madame Crisálida com um prato e o respectivo pano de enxugar. De chinelos, desgrenhada, um aspecto inconfundível de miséria e desleixo. Atrás, de pé no chão, seu filho de 10 anos. Durante toda a cena, a criança permanece, bravamente, com o dedo no nariz. Zulmira tosse muito.)
MADAME CRISÁLIDA - Quem é?
ZULMIRA - Por obséquio. Eu queria falar com madame Crisálida.
MADAME CRISÁLIDA - Consulta?
ZULMIRA - Sim.
MADAME CRISÁLIDA - Da parte de quem?
ZULMIRA - De uma moça assim, assim, que esteve aqui outro dia.
(Madame, sempre acompanhada pelo garoto de dedo no nariz, abre a porta, a princípio, imaginária)
MADAME CRISÁLIDA - Sou eu. Vamos entrar.
(Zulmira entra, fechando o guarda-chuva.)
ZULMIRA - Com licença.
(Madame suspira.)
MADAME CRISÁLIDA - É preciso estar de olho. A polícia não é sopa. Outro dia fui em cana.
ZULMIRA - Caso sério!
MADAME CRISÁLIDA - Mas Deus é grande.
(Zulmira e madame apanham uma cadeira, atrás das cortinas.)
MADAME CRISÁLIDA - Sente-se.
(Senta-se Zulmira.)
ZULMIRA - Obrigada.
(Madame senta-se também.)
MADAME CRISÁLIDA - Não repare na desarrumação!
ZULMIRA - Ora!
(Madame começa a embaralhar as cartas ensebadas.)
MADAME CRISÁLIDA - Quem tem criança, sabe como é!