A ESCRITA ESQUIZOFRÊNICA EM SPIDER, DE DAVID CRONENBERG

A ESCRITA ESQUIZOFRÊNICA EM SPIDER, DE DAVID CRONENBERG

Marcos dos Santos

O modo como a relação entre cinema e escrita se configura em Spider (2002) de David Cronenberg, colabora para entendermos numa primeira instância as convergências entre literatura e cinema, e em um sentido mais especifico, como a escrita é mimetizada no cinema, seja imageticamente, seja para colaborar para a construção da narrativa fílmica. Se idealizadores como Bergman e Truffaut constroem suas narrativas com auxílio da escrita diegética e não-diegética, de forma elaborada, mas cognoscível, Cronenberg (com sua personagem, em que a mente são infindáveis fios de uma imensa teia de aranha) nos apresenta uma representação e uso da escrita como uma estratégia truncada, borrada, lacunar, enfim, indecifrável, e em certas instâncias, inacessível.
As sensações despertadas ao assistirmos o filme Spider de David Cronenberg, nos levam para o mundo solitário do personagem Dennis “Spider” Clegg. Atormentado por seu passado, o filme acontece em dois planos que se misturam e se alternam como a mente de Spider. Nesta mistura de planos entre o presente e passado, o diretor imprime a sensação de esquizofrenia no espectador, uma confusão entre o que é real e imaginado.
Já nos créditos iniciais do filme, há referências que permitem pensar em questões como a solidão e o abandono. São imagens estáticas de detalhes de paredes mofadas. Elas parecem lindas pinturas abstratas, em tons pastéis, e surgem acompanhadas por uma canção suave, quase como uma cantiga de ninar, que anuncia: "Onde não há espaço/nem para uma mosca/onde o mosquito não se aventura/com medo de morrer/mas se o amor chegar, ele entrará/e encontrará o seu caminho.". As figuras aparecem duplicadas e formam imagens que sugerem seres com olhos, como se estivessemos sendo observados. Isso revela muito sobre a ambiciosa proposta do filme: mostrar como funciona uma mente esquizofrênica.
O filme começa com Spider, o protagonista, assim