a era das distopias
20 Quo vadis?
INTELIGÊNCIA
I N S I G H T
INTELIGÊNCIA
A ERA DAS
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MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES economista MOVIMENTOS
UTÓPICOS
Desde o século XVIII, os movimentos políticos, sociais e econômicos deixaram de se orientar pela ideia de tradição, substituindo-a pela de um futuro diferente e melhor. Eles acreditavam que a história tinha um sentido, um objetivo, uma utopia: criar uma sociedade mais livre e mais igualitária. A busca da liberdade pautou o século XIX: liberdade do indivíduo, política e econômica, representada pela Revolução Francesa. Depois, no século XX, veio o
marxismo e a promessa do reino da igualdade, representada pela Revolução Russa. Foi também em nome da igualdade que se construiu o Estado do bem-estar, como uma alternativa ao socialismo. O planejamento era uma ideia inseparável dessa visão de mundo. Democratização, planificação, esse é o século XX. As pessoas acreditavam que o futuro estava destinado a isso. E orientavam-se politicamente em função da reconstrução do mundo. Mas essa orientação histórica rumo à liberdade e à igualdade, elaborada no Iluminismo, acabou no final do século XX. janeiro • fEvereiRo • março 2014
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I N S I G H T
A supremacia do indivíduo
O movimento neoliberal – na verdade, um individualismo escrachado – começa em 1980, com as gestões de Ronald Reagan, na presidência dos Estados Unidos, e da primeira ministra da Inglaterra, a Sra.
Margareth Thatcher. É a tríade desregulação, privatização e globalização.
Thatcher resumia este pensamento com mais brilho do que o caubói americano. Para ela, a sociedade não existia, só as pessoas, os indivíduos. O
Estado intervém, mas não para regular o mercado, senão para favorecê-lo. Pode ser que a queda do muro de
Berlim e o esfacelamento da União
Soviética estejam por trás da falta de utopias igualitárias. A União Soviética esfacelou-se sem guerra, o que era inacreditável. Certo mesmo é que a