A EPISTEMOLOGIA DE KUHN
Fernanda Ostermann
Instituto de Física, UFRGS
Porto Alegre Rs
Resumo
Neste trabalho, é apresentada a epistemologia proposta por Kuhn, a partir de alguns conceitos principais de sua teoria: paradigma, ciência normal, revolução científica, incomensurabilidade. O modelo kuhniano encara o desenvolvimento científico como uma seqüência de períodos de ciência normal, nos quais a comunidade científica adere a um paradigma. Estes períodos, por sua vez, são interrompidos por revoluções científicas, marcadas por crises/anomalias no paradigma dominante, culminando com sua ruptura. A crise é superada quando surge um novo candidato a paradigma. Ao comparar o antigo e o novo paradigma, Kuhn defende a tese da incomensurabilidade. Algumas implicações de suas idéias para o ensino de Ciências são também discutidas. I. Introdução
O trabalho de Thomas Kuhn (1977, 1978) é um marco importante na construção de uma imagem contemporânea de ciência. Suas idéias sobre o desenvolvimento científico são precursoras - a primeira edição de seu primeiro livro A estrutura das revoluções científicas é de 1962 - época na qual autores como Lakatos (1989) e Feyerabend (1989) ainda não haviam publicado suas obras principais, e Popper (1972) não tinha sido traduzido nos países de língua inglesa.
Ao propor uma nova visão de ciência, Kuhn elabora críticas ao positivismo lógico na filosofia da ciência e à historiografia tradicional. Em síntese, esta postura epistemológica superada pelo modelo kuhniano acredita, entre outras coisas, que a produção do conhecimento científico começa com observação neutra, se dá por indução, é cumulativa e linear e que o conhecimento científico daí obtido é definitivo. Ao contrário, Kuhn encara a observação como antecedida por teorias e, portanto, não neutra (apontando para a inseparabilidade entre observações e pressupostos teóricos), acredita que não há justificativa lógica para o método indutivo e reconhece o caráter construtivo,