A dois seculos d'o uraguai
No primeiro capítulo da obra Vários Escritos de Antonio Candido, encontra-se um estudo sobre o escritor brasileiro Machado de Assis, no qual Candido afirma que nosso modo de ser é ainda muito romântico e que por isso atribuímos aos grandes escritores uma quota pesada e ostensiva de sofrimento e drama, uma vez que a vida normal parece ser incompatível com o gênio. Dickens era desgovernado por uma paixão de maturidade e em menino sofreu as humilhações pela prisão do pai; Dostoievski quase foi fuzilado, foi preso e era acometido de moléstia nervosa; Proust enjaulado no seu quarto e no seu remorso, sufocado pela asma; Machado de Assis de cor escura, origem humilde, carreira difícil, humilhações e doenças nervosas. A análise realizada sobre a carreira intelectual de Machado de Assis mostra que foi admirado e apoiado desde cedo, aos 50 anos era considerado o maior escritor do país, objeto de uma reverência e admiração gerais, que nenhum outro romancista ou poeta brasileiro conheceu em vida antes e depois dele, apenas Sílvio Romero emitiu nota dissonante desta informação. Quando se cogitou em fundar a Academia Brasileira de Letras, Machado foi escolhido como seu mentor e Presidente, pois ele já era um patriarca das letras antes dos 60 anos. Era convencional, formalista, ridículo e mesquinho como qualquer outro presidente de academia, admitindo entre os fundadores um moço ainda sem expressão, como Carlos Magalhães de Azeredo ou ainda um Mário de Alencar e barrando outros de nível igual ou superior como Emílio de Meneses. Se encararmos a sua obra na corrente geral da literatura dos povos ocidentais, permaneceu quase totalmente desconhecido fora do Brasil e como a glória literária depende da irradiação política do país, só agora começa a ser estimado nos EUA, Inglaterra e alguns países latino-americanos. Na sua obra entre 1880 e 1900, encontram-se traços arcaizantes característicos da ficção do século XX. O fato de sua