A dialética
Wolfgang Leo Maar
"Tudo tem um preço (...)
Só os homens têm dignidade."
IMMANUEL KANT (1)
1. O SENTIDO DA CENTRALIDADE DO TRABALHO A questão da centralidade do trabalho precisa ser elaborada com cautela, para evitar parâmetros maniqueístas para o problema, ao contrapor as posições contrárias apenas no plano do discurso.
De um lado, não cabe se fixar apenas na propalada – verdadeira – tendência factual regressiva do trabalho na sociedade presente, sob pena de unicamente fazer eco à ideologia capitalista. Nem tampouco procede insistir numa mera defesa da centralidade do trabalho – verdadeira – idealizada para além da sociedade em sua formação real vigente, com o risco de resvalar somente num essencialismo ahistórico. Em ambos os casos, movemo-nos num ambiente de abstração das determinações sociais em suas formações efetivas, abstrações que resultam em diminutas contribuições à elucidação adequada do tema em pauta. Evitar essas abordagens significa superar uma posição positiva, embora conformista, no primeiro caso; e crítica-negativa, porém idealista, no segundo.
O tema da centralidade do trabalho precisa ser focalizado tendo em vista o processo de produção e reprodução material da vida humana em sociedade, em sua interação com os outros homens e com a natureza. Neste processo os homens produzem a si próprios, a sociedade e as próprias formas sociais em que produzem.
O trabalho social tem uma dupla "natureza": ele é tanto o trabalho envolvido no processo de produção da sociedade em que se trabalha, que determina socialmente, quanto o trabalho concreto na sociedade vigente, socialmente determinado.
Marx se refere a essa questão no capítulo sexto inédito de O Capital.
"(...) os economistas burgueses, enredados nas idéias capitalistas, vêem sem dúvida como se produz no interior da relação capitalista, mas não como se produz esta relação propriamente dita (...)" (2).
Contudo o único acesso à "essência" ocorre pela