A Desnutri O E Obesidade No Brasil
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
O lançamento, há 50 anos, do livro de Josué de Castro — Geopolítica da Fome — e a realização, nas décadas de 50 e 60, de vários inquéritos sobre a situação alimentar e nutricional de muitos paises da África, Ásia e América Latina despertaram a consciência mundial para o grave quadro das deficiências globais e específicas de alimentos/nutrientes. Até então, estes problemas tinham sido abordados de uma forma impressionista, sem um tratamento técnico-científico que possibilitasse compreender sua natureza, extensão, gravidade e distribuição populacional e geográfica (OPS, 1989).
Manifesta-se, desde então, um esforço multinacional no sentido de definir políticas e programas sociais orientados para a redução das deficiências alimentares, dos agravos nutricionais e suas conseqüências no quadro biológico e social. Evidencia-se, mediante repetidas experiências, que os dados produzidos pelos clássicos inquéritos nutricionais (ICNND, 1963; Jelliffe, 1968) eram de pouca utilidade para o monitoramento das propostas de intervenção, na medida em que exigia-se a participação de profissionais de elevada qualificação, equipamentos sofisticados e altos custos financeiros (Chavez, 1989; Lechtig, 1990). Com estas restrições, os estudos de base populacional dificilmente poderiam ser repetidos a intervalos menores que 10 ou 15 anos.
O interesse político pelo encaminhamento de medidas destinadas a reduzir o gap existente entre o potencial de recursos naturais e humanos e o perfil de qualidade de vida de regiões, países e agrupamentos sociais com escassa participação no sistema de produção e uso de bens e serviços consolidou-se, a partir dos anos 70, com a realização de três eventos internacionais: a Conferência Mundial de Alimentos, promovida pela Food and Agriculture Organization (FAO), em Roma (1974); a Conferência de Alma-Ata, na União Soviética, em 1978, auspiciada