A (des)construção do discurso amoroso: fios que costuram a poesia de Hilda Hilst à de Luís Vaz de Camões
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A (des)construção do discurso amoroso: fios que costuram a poesia de Hilda Hilst à de Luís Vaz de Camões Olívia de Melo Fonseca
Resumo: O discurso amoroso é solitário, pois é o lugar do sujeito que fala em si mesmo, amorosamente, em face do objeto amoroso, o outro que não fala 1. O tecido amoroso, proposto por Roland Barthes, é formado por ondas de linguagem, por discursos lidos, escutados e (re)escritos por este autor, que, por conseguinte, serão enviadas a seu leitor. São, portanto, fios que podem ser recuperados numa nova escritura, que, a depender do leitor/autor e de sua bagagem cultural (de leitura), podem tornar-se visíveis ou invisíveis.
A partir da ideia de uma escritura/leitura fragmentar e intertextual do discurso amoroso proposta por Barthes, este trabalho pretende tornar visíveis os fragmentos discursivos que constroem as relações poético-amorosas entre a poesia de Luís Vaz de Camões e a de Hilda Hilst.
A poesia de Hilda Hilst dialoga com a poesia portuguesa, fato este que pode ser observado tanto na leitura dos poemas desta poeta, quanto nos títulos de suas obras ou de seus capítulos. Para ilustrar, no livro Trovas de muito amor para um amado senhor, é possível observar a ressonância das cantigas medievais portuguesas; já na coletânea Exercícios, pode-se apreender a relação entre o título do capítulo “Do amor contente e muito descontente” e o famoso verso camoniano “É um contentamento descontente”.
Este trabalho, por conseguinte, terá como foco a ideia amorosa que relaciona a poesia de Luís Vaz de Camões a de Hilda Hilst. Nos moldes de Dante e Petrarca, Hilda e Camões recuperaram a estrutura do soneto. Porém, ironicamente, desconstruíram a ideia de amor puro para, em seguida, (re)construírem a ideia de amor misto e antitético. Camões, apesar de ter lido Dante e Petrarca e por eles se influenciado, não retratou a amada nem como a inacessível Beatriz, nem como a inalcançável Laura. A esse respeito, em Camões e a viagem iniciática (1980,