A Democracia Como Valor Universal
Como Valor Universal
Carlos Nelson Coutinho
Ensaísta e tradutor. Autor de Literatura e Humanismo
(1967), O Estruturalismo e a Miséria da Razão (1972) e, em colaboração, Realismo e Anti-realismo na Literatura
Brasileira (1974).
A questão do vínculo entre socialismo e democracia marcou sempre, desde o início, o processo de formação do pensamento marxista; e, direta ou indiretamente, esteve na raiz das inúmeras controvérsias que assinalaram e assinalam a história da evolução desse pensamento. Não se deve esquecer que Marx, antes de empreender a sua monumental crítica da economia política, já havia esboçado em suas obras juvenis os pressupostos de uma crítica da política, de uma crítica da democracia representativa burguesa; e que Engels chegou ao fim da vida preocupado com as novas condições que a conquista do sufrágio universal (da ampliação da democracia) colocava ao movimento operário socialista. Por outro lado, a questão do valor universal da democracia está na base não apenas das polêmicas entre “revisionistas” e
"ortodoxos”, na virada do século, mas reaparece igualmente entre os princi pais representantes da esquerda marxista na época imediatamente subse qüente à Revolução de Outubro: basta aqui recordar a polêmica entre Rosa
Luxemburgo, por um lado, e Lênin e Trotski, por outro, acerca da conserva ção de certos institutos democráticos sob o governo proletário que surgira daquela Revolução.
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E, se hoje se generaliza entre os marxistas ocidentais a rejeição do
“modelo soviético” como modelo universal de socialismo, isso resulta em grande parte de uma diversa concepção do vínculo socialismo-democracia por parte desses marxistas. Concepção que Enrico Berlinguer sintetizou expressivamente no discurso que pronunciou em Moscou, em 1977, por ocasião do 60º aniversário da Revolução de Outubro: “A democracia é hoje não apenas o terreno no qual o adversário de classe é obrigado a retroceder, mas é também o valor historicamente universal sobre o qual