A cura do câncer
Uma descoberta espetacular sobre a origem dos tumores pode levar à cura talvez ainda neste fim de século.
Na dramática batalha que os pesquisadores movem ao câncer, mesmo uma terapia que signifique uma sobrevida de poucos anos para pacientes costuma ser comemorada como uma vitória da ciência. Acostumados a garimpar essas migalhas misericordiosas como se fossem uma concessão do destino, alguns cientistas depararam há dois anos com uma novidade tão diferente e tão recompensadora que, em vez de comemorar, preferiram adotar uma atitude de cautela. Equipes independentes de pesquisadores, nos Estados Unidos, Japão e França, conseguiram a proeza de curar, ainda que em laboratório, alguns tipos de tumores relativamente raros, que têm em comum o fato de vitimar principalmente crianças.
Um deles é o tumor de Wilms, que ataca os rins. A doença é mortal e não atinge adultos. O outro é o retinoblastoma, comparativamente mais comum que o tumor de Wilms, que atinge uma em 20 mil crianças. Em laboratório, a taxa de cura, segundo apuraram os ressabiados cientistas, foi de 100 por cento. Um dos artigos que comunicaram a descoberta à comunidade científica, publicado na revista americana Science, foi taxativo. “A habilidade das células cancerosas em formar tumores foi completamente suprimida”, diz o artigo, assinado por cinco importantes oncologistas. A cura por enquanto, está restrita a um tipo muito especial de paciente - os ratos pelados que os cientistas usam em suas experiências.
Mas os resultados foram tão bons que deram origem a toda uma nova teoria sobre o câncer, algo completamente impensável há uma década. “Descobriram onde fica o freio da doença”, resume o médico paulista Ricardo Brentani, diretor do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer. De fato, os cientistas costumam comparar a doença a um carro cujo acelerador calcado até o fundo emperrou, produzindo células tumorais a uma velocidade descontrolada. Para entender o porte da