A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento
Rabelais,1 do teórico da literatura russo Mikhail
Bakhtin, explora um viés um tanto obscuro, para a crítica literária do período em que foi lançado, não apenas na obra de François Rabelais, mas mais fortemente nele: a influência das fontes populares. Desde seu lançamento na Rússia
(1965), o estudo se tornou referência nos estudos literários, principalmente àqueles que se dedicam à história do riso e à cultura popular.
Na Introdução, ou “Apresentação do
Problema”, Bakhtin revela o objetivo central: compreender a influência da cultura cômica popular na obra de François Rabelais, “seu eminente porta-voz na literatura”.
Para tanto, se faz necessário estabelecer os limites da multiplicidade das manifestações da cultura popular. Segundo ele, as múltiplas manifestações dessa cultura podem subdividir-se em três grandes categorias: as formas dos ritos e espetáculos (festejos carnavalescos, obras cômicas representadas nas praças públicas, etc.); obras cômicas verbais (inclusive as paródicas) de diversa natureza: orais e escritas, em latim ou em língua vulgar; e diversas formas e gêneros do vocabulário familiar e grosseiro
(insultos, juramentos, blasões populares, etc.).2
A primeira das três grandes categorias diz respeito aos festejos populares na praça pública e à presença determinante do elemento cômico na vida do homem medieval, em oposição ao tom sério e oficial das cerimônias da Igreja ou do Estado feudal. Segundo o autor, essas formas de ritos e espetáculos:
Ofereciam uma visão do mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferente, deliberadamente não-oficial, exterior à Igreja e ao Estado; pareciam ter construído, ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida aos quais os homens da Idade
Média pertenciam em maior ou menor proporção, e nos quais eles viviam em ocasiões determinadas. Isso criava uma espécie de dualidade do