A CULTURA FILOSOFICA
11173 palavras
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Conto de LUS BERNARDO HONWANA O Co-Tinhoso tinha uns olhos azuis... O Co-Tinhoso tinha uns olhos azuis que no tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de lgrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim to grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. Eu via todos os dias o Co-Tinhoso a andar pela sombra do muro em volta do ptio da Escola, a ir para o canto das camas de poeira das galinhas do Senhor Professor. As galinhas nem fugiam, porque ele no se metia com elas, sempre a andar devagar, procura de uma cama de poeira que no estivesse ocupada. O Co-Tinhoso passava o tempo todo a dormir, mas s vezes andava, e ento eu gostava de o ver, com os ossos todos mostra no corpo magro. Eu nunca via o Co-Tinhoso a correr e nem sei mesmo se ele era capaz disso, porque andava todo a tremer, mesmo sem haver frio, fazendo balano com a cabea, como os bois e dando uns passos to malucos que parecia uma carroa velha. Houve um dia que ele ficou o tempo todo no porto da Escola a ver os outros ces a brincar no capim do outro lado da estrada, a correr, a correr, e a cheirar debaixo do rabo uns aos outros. Nesse dia o Co-Tinhoso tremia mais do que nunca, mas foi a nica vez que o vi com a cabea levantada, o rabo direito e longe das pernas e as orelhas espetadas de curiosidade. Os outros ces s vezes deixavam de brincar e ficavam a olhar para o Co-Tinhoso. Depois zangavam-se e punham- se a ladrar, mas como ele no dissesse nada e s ficasse para ali a olhar, viravam-lhe as costas e voltavam a cheirar debaixo do rabo uns aos outros e a correr. Duma dessas vezes, o Co-Tinhoso comeou a chiar com a boca fechada e avanou para os outros quase que a correr, mas com a cabea muito direita e as orelhas mais espetadas do que nunca. Quando os outros se viraram para ver o que ele queria, teve medo e parou no meio da estrada. Os outros ces ficaram um bocado a pensar no que haviam de fazer por ele estar a olhar para eles