A Crise Das Fronteiras Simb Licas Da Na O
Invasões bárbaras e Caché
Felipe Botelho Corrêa
CACHÉ E A CRISE DAS COMUNIDADES IMAGINADAS
As fronteiras simbólicas, definidoras e delimitadoras da identidade nacional, estão, hoje, sendo colocadas como pauta de inúmeras discussões no campo da cultura. Muito se fala em crise do modelo Estado-nação, como provedor de significação e de identidade cultural, diante da mundialização – termo cunhado por
Renato Ortiz (1994) – em que vivemos atualmente. Não afirmo, contudo, que a concepção de Estado-nação tenha se transformado a tal ponto que já não mais o reconheçamos como peça fundamental de referência política. Não falamos, aqui, de grandes rupturas simbólicas, mas de transformações significativas que estão operando novas formas de conjugação de identidade e diferença.
Procuro, aqui neste ensaio, apontar algumas das problemáticas que estão atreladas às discussões da crise do Estado-nação como grande referente de significação cultural e, conseqüentemente, propor uma visada que, sob a perspectiva de uma análise que elege como corpus os filmes Invasões bárbaras (2003), de Denys Arcand, e Caché (2005), de Michael Haneke, tente fazer uma leitura das novas formas de produção de fronteiras simbólicas. Fronteiras que não devem ser encaradas como linhas delimitadoras, mas como diferentes formas de negociação da hibridização cultural.
Utilizo o termo fronteiras simbólicas para designar a fluidez e, por vezes, a indeterminação das identidades e alteridades culturais quando estamos sob o prisma da crise do Estado-nação.
Afirmo essa fluidez das identidades culturais, pois coloco-as sob a condição de serem instâncias abertas, ou melhor, processos contínuos de produção de significados e de práticas de narração. Há vertentes de pensamento que, quase sempre estrategicamente, legitimavam e continuam legitimando uma concepção essencialista de identidade nacional, ou seja, que haveria uma essência, por exemplo,
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