A contribuição da psicopatologia na formação do psicólogo
(Texto apresentado no Encontro de Psicologia da UFSJ. São João Del Rey, 29 de novembro de 2003)
A palavra "Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas: "psychê", que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; "pathos", que resultou em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", "assujeitamento", "patológico" e "logos", que resultou em "lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". Psico-pato-logia, seria, então, um discurso, um saber, (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, a psicopatologia é um discurso representativo (logos) a respeito do pathos psíquico (1); um discurso sobre o sofrimento psíquico.
Para o grande filósofo grego Platão, o médico é aquele que está sempre atento ao pathos, à paixão, pois as doenças apresentam-se como o excesso das paixões. O médico cuida de Eros doente. Doente pelo excesso. (Ou, na linguagem psicanalítica, pelo excesso pulsional.) Terapéia, em grego, é o cuidado exercido sobre Eros doente. O terapeuta é o que deve restabelecer o equilíbrio pulsional para que Eros, doente pelo excesso, seja liberado desse excesso. O acometido pela paixão, o paciente, o passivo, o portador de sofrimento psíquico, é aquele que padece de algo cuja origem ele desconhece e que o leva a reagir, na maioria das vezes, de forma imprevista. A paixão atesta sempre, para usar um jargão lacaniano, nossa permanente dependência ao Outro; um ser autárquico não teria paixões.
As tentativas de compreensão, estudo e tratamento do sofrimento psíquico, ou seja, de "decompor" este sofrimento em seus elementos básicos, deram lugar a várias metapsicopatologias, cada uma com referênciais próprios e diferentes perspectivas teórico-clínicas. (Para Freud (2) a "psico-análise" é uma análise no mesmo sentido que a química dá ao termo. Ou seja, a decomposição, a análise, dos elementos que constituem "os sintomas e as manifestações patológicas