A Contribuicao Da Psicopatologia Fundamental Para A Saude Mental
ano VI, n. 1, mar/ 2 0 03
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., VI, 1, 13-25
A contribuição da Psicopatologia
Fundamental para a Saúde Mental
Paulo Roberto Ceccarelli
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O texto traz reflexões sobre a intersecção da psicopatologia fundamental com a saúde mental.
Inicialmente, o autor apresenta uma breve digressão sobre as mudanças no conceito grego de pathos, desde sua origem até o seu uso mais comum: o sentido médico de doença.
Discute-se também as origens da psicopatologia como disciplina organizada. Em seguida, apresentam-se os fundamentos histórico-teóricos da psicopatologia fundamental, suas concepções quanto à origem e à organização do aparelho psíquico e suas relações com as outras psicopatologias.
Finalmente, o autor discute a aplicabilidade dos princípios norteadores da psicopatologia fundamental às políticas de saúde mental.
Palavras-chave: Psicopatologia fundamental, pathos, saúde mental, cidadania
R E V I S T A
LATINOAMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA
F U N D A M E N T A L an o VI, n. 1, mar/ 2 0 03
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Psicopatologia contém a palavra grega pathos. Embora em sua origem pathos possua vários significados, dois conceitos, bastante diferentes, interessam-nos sobremaneira: o passional, a paixão, a passividade; e o patológico, a doença, presente no diagnóstico médico.
A fronteira que separa estas duas perspectivas é frágil e varia de acordo com as épocas e as civilizações (Cf. Martins, 1999).
O acometido pela paixão, o paciente, o passivo, é aquele que padece de algo cuja causa ele desconhece e que o leva a reagir, na maioria das vezes, de forma imprevista. A paixão atesta sempre, para usar um jargão lacaniano, nossa permanente dependência ao Outro; um ser autárquico não teria paixões. Assim, só faz sentido falar de paixões onde houver imperfeição ontológica.
Duas grandes vertentes histórico-filosóficas, que antecedem a própria noção moral e jurídica de sujeito, tentarão explicitar o pathos, a paixão. A primeira, encabeçada por Aristóteles, entende a