A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO MERCADO
EM DURKHEIM E WEBER: análise do papel das instituições na sociologia econômica clássica*
Cécile Raud-Mattedi
Introdução
Desde a década de 1980, a sociologia econômica está em plena efervescência nos Estados Unidos e na Europa.1 Cada vez mais sociólogos estão
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Este texto foi escrito durante o estagio pós-doutoral realizado entre ago. 2002-jul. 2003 na Universidade de Dauphine, Paris, França. Gostaríamos de agradecer à Capes, pelo apoio financeiro, à professora Catherine Bidou, diretora do Iris, que nos convidou e nos disponibilizou ótimas condições de trabalho e, sobretudo, ao professor Philippe Steiner, nosso orientador, cuja contribuição foi fundamental para a elaboração deste texto. Agradecemos também ao professor Fernando Ponte de Sousa e aos demais colegas pelos comentários a respeito de uma versão preliminar deste texto, discutida num dos seminários internos do Programa de Pós-Graduação em
Sociologia Política da UFSC.
Artigo recebido em abril/2004
Aprovado em novembro/2004
empenhados em analisar os fatos econômicos de maneira a fornecer explicações alternativas às teorias econômicas, sobretudo à teoria standard neoclássica. Em particular, esta “nova sociologia econômica” teria o mérito de analisar sociologicamente o núcleo mesmo da ciência econômica, ou seja, o mercado, o que a distinguiria radicalmente da sociologia econômica clássica (Swedberg, 1994). No entanto, outros autores criticam essa noção de ruptura e defendem a idéia de que, na sociologia econômica de hoje e de ontem, o objetivo e os meios permanecem os mesmos (Gislain e Steiner, 1995).
De fato, a sociologia econômica surge no final do século XIX em reação à hegemonia da teoria econômica marginalista e aos limites evidentes de seu programa de pesquisa (Idem). Teóricos da envergadura de Durkheim, Weber, Simmel ou Veblen, por exemplo, tentam denunciar os pressupostos teóricos e metodológicos de uma ciência
RBCS Vol. 20 nº 57