A Constituição da Psicologia Científica
O ano de 1979 foi marcado pela comemoração do centenário da aquisição, pela psicologia, de seu status científico. De fato, na segunda metade do século XIX a psicologia, até então um ramo da filosofia, declara-se ciência autônoma, apoiando-se em técnicas de laboratório tomadas por empréstimo a outras ciências. O marco histórico desta transformação se deu em 1879, dando início a prática científica.
A psicologia tem crescido através da condução de milhares de “pesquisas normais” que buscam o aperfeiçoamento de “paradigmas” inconciliáveis e adensam o volume das publicações especializadas. É verdade que encontramos registrada em sua história alguma polêmica entre defensores de diferentes paradigmas; no entanto, via de regra, os debatedores travam um verdadeiro diálogo de surdos, pois ou discordam sobre o que é um problema e como resolvê-lo ou partem de concepções diferentes sobre o objeto da psicologia e como conhecê-lo. Não faltam também as tentativas de crítica à psicologia enquanto ciência; principalmente quando empreendidas pelos próprios psicólogos, estas críticas limitam-se a ressaltar sua heterogeneidade teórica quase sempre justificada pela juventude da ciência psicológica e sobre tudo a denunciar a aplicação indevida de um corpo teórico supostamente inatacável em sua validade e neutralidade científicas.
Toda ciência é ideologicamente determinada, esta tese frequentemente dá margem a mal-entendidos, um dos quais consiste em cair num total relativismo; pois, se ciência e ideologia se confundem, é impossível determinar se um discurso é científico ou não. Para evitar tal impasse, é preciso esclarecer o que significa afirmar que toda ciência é determinada ideologicamente. Mais que isso, é preciso definir o próprio conceito de “ideologia”. Entendemos por ideologia “linguagens e discursos que representam o real e que mantêm com seu objeto uma relação ilusória, inversora, antitética de desconhecimento e uma relação