A conquista da america
(Historia Calamitatum ou Abaelardi ad Amicum Suum Consolatoria) – 1132?
CAPÍTULOS VI, VII E VIII Residia na mesma cidade de Paris uma certa jovem chamada Heloisa, a sobrinha de um cônego chamado Fulbert. O amor do tio por ela só se igualava a seu desejo de que ela tivesse a melhor educação que ele pudesse lhe proporcionar. Não era bonita, mas sobressaía por sua razão e abundante conhecimento de letras. Essa virtude é rara entre as mulheres, e exatamente por isso dobrava a graça da donzela, e fazia dela a mais meritória de renome em todo o reino. Foi essa jovem que eu, depois de considerar calmamente todas essas qualidades que costumeiramente atraem amantes, determinado a me ligar com os laços do amor e, de fato, tudo pareceu para mim muito fácil de ser feito. Tão ilustre era meu nome, e eu possuia tais vantagens de juventude e beleza, que, não importava a mulher a quem eu quisesse favorecer com meu amor, não temia a rejeição de nenhuma. Além disso, eu acreditava poder ganhar o consentimento da donzela mais facilmente por razão de seu conhecimento de letras e seu zelo por ele. Assim, mesmo que estivéssemos separados, estaríamos juntos em pensamento com a ajuda de mensagens escritas. Talvez, ainda, pudéssemos escrever mais ousadamente do que pudéssemos falar, e assim, o tempo inteiro poderíamos gozar de alegre intimidade. De tal modo, absolutamente tomado por minha paixão por aquela donzela, procurei descobrir maneiras de manter contato diário e familiar com ela, para conseguir seu consentimento mais facilmente. Para esse propósito, persuadi o tio da jovem, com a ajuda de alguns de seus amigos, para ficar em sua casa – pois ele morava próximo a minha escola – com o pagamento de uma pequena soma. Meu pretexto para isso era o de que cuidar da minha própria casa prejudicava meus estudos, e as despesas eram muito maiores do que eu poderia arcar. Ele era um homem de grande avareza e muito desejoso de que a