A CONCEPÇÃO DE TRABALHO NA FILOSOFIA DO JOVEM MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS
MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS
1. A Categoria Trabalho
Da segunda metade do século XX ao início do século XXI, o marxismo tem testemunhado um vasto debate entre os seus teóricos acerca da categoria trabalho, da sua centralidade e importância na filosofia de Marx como categoria ontológica fundamental da existência humana. Para alguns desses teóricos, o trabalho possui um grande valor no conjunto dos escritos marxianos, por ser a atividade afirmadora da vida, que forma a existência dos indivíduos e instaura-lhe um caráter social. É no trabalho que se manifesta a superioridade humana ante os demais seres vivos. Ele seria a realização do próprio homem, a fonte de toda riqueza e bem material.
Contrariamente a essa posição que podemos chamar de positiva, existe outra, de cunho negativo, que afirma a extinção do trabalho em virtude das diversas transformações na sociedade contemporânea, por meio das quais ele deixa de ser, em termos práticos, uma atividade central e, em termos teóricos, uma categoria analítica de compreensão das relações sociais, principalmente após as grandes revoluções tecnológicas, na qual as máquinas informatizadas, a microeletrônica, substituíram a mão-de-obra viva. Para os defensores desta segunda linha de pensamento, em Marx já se vislumbra uma total negação do trabalho.1 Todavia, o que os teóricos de ambas as orientações esquecem é que existe, no pensamento de Marx, uma dialeticidade entre o elemento criador do trabalho e o seu aspecto estranhado, este expresso nas relações modernas de produção. O trabalho possui um momento universal, antropológico, o momento da objetivação e auto-criação humana e um momento particular, histórico, o trabalho assalariado, produtor de mercadorias, a atividade capitalista.
Essa dialeticidade do trabalho, no sistema da propriedade privada, é fundamental para compreendermos o modo como o jovem Marx trata as questões fundamentais de sua filosofia, como a