A CIDADE

A CIDADE

É uma cidade grande, dividida em duas. Uma com ruas bastante largas, planas e compridas a perder de vista, de um asfalto tão negro que parece recém colocado e faixas alvas como se ninguém nunca as pisasse, as calçadas generosamente amplas, limpas, canteiros bem ajeitados com árvores cuidadosamente podadas. Nos dois lados as edificações são novas, espaçadas, baixas, de cor pastel, modernas, envidraçadas, que permitem ver-se todo o céu de um azul claro vivo confortante. A outra, ruas estreitas, calçadas inexistentes, casas geminadas, becos e vielas que só permite a visão, alguns passos à frente. São dois universos que se completam e convidam ao cidadão a opção de transitar por um ou outro, ao sabor de seu humor. Decido vasculhar o aclive em curva à direita, a mais bonita das ruas, feita de pedras regulares que refletem a luz amarela dos postes antigos de ferro. É entardecer e, flanando vou em direção a praça, há muitas pessoas lá, um burburinho frenético, uma pequena feira e posso distinguir em meio ao barulho, uma melodia, um pouco melancólica, de cordas. Demoro a chegar; Lojas, pedintes, cafés, prostitutas, livrarias, bares, jornaleiro, florista, pipoqueiro, conversas, cartazes. Curioso foi encontrar a funerária ao lado do consultório de obstetrícia, que fica contíguo a loja de noivas, à frente, um automóvel tão pomposo, que não se pode saber a qual dos três serve. Tudo é encantador, a cidade parece se resumir a esta rua. Sento no meio fio da praça e fico a contemplar a descida e exclamo, - Que rua tri, valeu a pena a subida.