A cidade e as serras
Em Guiães Zé Fernandes recebeu suas malas que estavam perdidas. Tentou contatar Jacinto em Lisboa, mas ele nunca respondia. Até que encontrou com um familiar de Melchior que passara por Tormes e lá vira Jacinto.
Surpreso com a permanência de Jacinto nas serras por mais de cinco semanas, o narrador vai ao encontro de seu príncipe. Chegando a Tormes se depara com o casarão bem arrumado, mas de forma simples, sem todos os mecanismos que foram encaixotados no 202. Jacinto também está renovado, se mostra disposto, tão animado com a nova vida que nem se preocupa com tais caixotes, que foram enviados, por engano, para outra Tormes, na Espanha.
Zé Fernandes cada vez mais se surpreende e admira as novas filosofias de Jacinto, que supervaloriza a natureza e suas criações, jogando por terra todo pessimismo que outrora elogiava em Shopenhauer. Agora ele encontrava inspiração nas plantas e nas águas, se comunicava alegremente com a gente humilde do interior. Assumiu, inclusive, que guardava milhares de livros no 202 que nunca tinha lido e agora apreciava mais do que nunca a leitura de livros como Dom Quixote e a Odisséia. Era outro homem.
O enterro dos ossos dos Jacintos antepassados, que era o motivo inicial da visita, se tornou uma cerimônia muito simples, uma vez que nem se sabia quem eram os tais antepassados. Foram sete ossadas e meia - uma era de criança - levadas para a nova igrejinha. E até nesse singelo momento Jacinto encontrou beleza.
O narrador observou que o interesse de Jacinto em contemplar a natureza evoluiu para um desejo de agir sobre a natureza: queria plantar árvores, criar animais... Tomou algumas metas, como construir um curral, uma queijaria, um pombal... Nesse ponto Zé Fernandes faz uma observação de cunho social: todo esse gosto pela natureza e todos planos de trabalhá-la só eram possíveis para alguém como Jacinto, que tem “a vida ganha”, mas não seria para meros assalariados. Esta observação é uma prévia do que virá no