A Cidade Desigual nas Crônicas de João do Rio
João do Rio, o escritor maldito
João Paulo Emílio Cristóvão Barreto, carioca, nascido em Agosto de 1881, mestiço, filho do professor Alfredo Coelho Barreto, de família tradicional do Rio Grande do Sul e de Florência Cristóvão dos Santos, mulata bonita, enfeitiçadora, segundo alguns relatos.
Além de mestiço era também homossexual, numa época repleta de permanências e preconceitos sociais contra esta parcela da população, o que lhe causou uma série de resistências e rejeições a sua obra.
Humberto de Campos, crítico voraz de sua obra, satirizava a coluna de Paulo Barreto, Pall-Mall Rio (publicada no jornal O Paiz), como “Pelle-Molle de João Francisco João”, no jornal O Imparcial. A crítica era pesada, e muitas vezes o acusaram de “tráfico (remunerado) de interesses)”
Sua crônicas, assinadas com diversos pseudônimos (José Antonio José, “X”, Caran d’Ache), sendo o mais famoso deles João do Rio, nos mostram as características sociais de uma metrópole em processo de formação, no nascer da modernidade brasileira.
Assim como Lima Barreto, que nos concede conhecer, pela literatura. a alma social da cidade e do país (vide A Bruzundanga e tantas outras obras) naquele contexto, João do Rio descortina para nós o pensamento de uma parcela da sociedade carioca daquele momento, ou de algumas parcelas desta sociedade.
Em A Era do Automóvel, observamos uma cidade prostrada diante do mostro tecnológico enfumaçado, que obviamente não estava preparada para receber devido a precariedade de seu piso e de suas ruelas espremidas.
Paulo nos faz ver a rapidez e a correria, a vertigem causada pela modernidade, simbolizada no automóvel. Todas as coisas correm, voam:
“Oh, o automóvel é o criador da época vertiginosa em que tudo se faz depressa. Porque tudo se faz depressa, com o relógio na mão e ganhando vertiginosamente tempo ao tempo.”1
Este é um tempo da economia de tempo; não se tem mais tempo para observar as árvores e